Deixa Chover

Estava sentada no sofá da sala. O dia iniciara ensolarado, um daqueles dias gostosos no meio do inverno que te fazem esquecer de todos os problemas, cerveja na mão, solzinho na cara, uma brisa gostosa que a gente não sente no verão. Meu tipo de dia preferido.

Mas como a alegria do pobre dura pouco, e não vivemos em nenhum filme de sessão da tarde, em um piscar de olhos as cortinas começaram a voar. O tecido leve subia e descia e comecei a ouvir aquele som característico de vento pré tempestade. Antes mesmo de levantar para olhar o céu, o trovão ribombou a distância. Dei um pulo, tempestades costumam libertar o meu lado mais amedrontado.

As pessoas reclamam da chuva, ora pois, sem ela certamente morreríamos, sem o que comer e nem o que beber. É claro que ninguém gosta daquela chuva no meio do dia, chuva de final de expediente, aquela chuva indesejada e que não foi prevista, que te faz comprar um guarda-chuva na beira da estrada e um par de meias secas para passar o resto do dia. E a gente gosta menos ainda da chuva quando ela causa enchentes, alagamentos, quando arranca telhados e deixa famílias desabrigadas. Pois é, ela pode ser traiçoeira. Chega devagarinho, o céu vai ficando cinza, o sol vai se despedindo e quando nos damos conta, choveu.

E ai é aquela correria. A mãe tira a roupa do varal, o filho fecha as janelas, o pai, quando raramente ajuda, tira os eletrodomésticos da tomada, pois imagina só que pesadelo perder a televisão nova por causa de algum raio perdido.

Em uma hora de chuva ninguém mais lembra do sol maravilhoso e da brisa gostosa que soprava no mesmo dia mais cedo. Fica todo mundo na janela olhando as pedras caindo, vendo os relâmpagos, seguidos pelos trovões. É um verdadeiro espetáculo no céu.

O sol engana a gente, que pensa por um momento que essa chuva é uma daquelas de verão, que caem com tudo, derrubam o que tem que derrubar, e vão embora, deixando o céu limpinho e azul, como se ela nunca tivesse passado por ali.

As vezes ela se demora. Fica. Por horas, ou dias. Traz o frio, faz a gente tirar o casaco do armário e finalmente concluir “É, o inverno oficialmente chegou”. A gente não sabe nem quando vai ver o sol de novo, e pensamos em como não aproveitamos aquele último dia ensolarado, antes da tempestade que trouxe o inverno no colo chegar.

A gente sabe que uma hora a chuva passa, assim como tudo na vida, então aguardamos, nós, os privilegiados que saem sãos e salvos de um temporal, pelo sol que não vimos a tanto tempo. E se encerra ali mais um espetáculo da natureza, mais um ciclo, de tantos outros que ainda estão por vir.

Crônica escrita por Fernanda Tomás!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s