E a saga da nossa querida Anne Shirley, também conhecida como Anne Blythe (demorei, mas me acostumei), está chegando ao fim (na verdade eu escrevi essa resenha achando que esse era o último livro, porém Vale do Arco Íris e Rilla de Ingleside também fazem parte da coleção oficial).
Anne de Ingleside acompanha a vida de Anne dos seus 34 aos seus 40 anos, então se preparem porque MUITA coisa acontece.
O que mais me chamou atenção nesse livro é o fato de que a narrativa não é feita unicamente pela protagonista, mas desta vez ela é dividida entre muitos personagens. Trata-se dos filhos de Anne e Gilbert, que ganham capítulos inteiros para contar suas aventuras e descobertas. Confesso que no início achei ruim o foco sair da Anne, mas depois comecei a entender o quão especial é poder conhecer mais dessas crianças que são a mistura perfeita dos pais e que foram criadas de forma impecável. Também é bacana saber que eles nunca vão precisar viver o que Anne viveu na infância, mas que ao contrário disso são rodeados de amor, conforto e segurança desde o dia em que nasceram.
O livro tem 336 páginas, sendo assim o maior da coleção, e nos traz todos os tipos de sentimentos, mas o que mais se destacou pra mim foi: raiva.
Os capítulos narrados pelas crianças, em sua grande maioria, trazem momentos onde tudo que o leitor quer fazer é enfiar a cabeça no buraco. Temos crianças inocentes demais, que acreditam nas mentiras mais cabulosas, mentem para os pais, fogem de casa, fazem barganha com Deus, até crianças que jogam bolos no rio por acharem vergonhoso carregá-los. E cada uma dessas histórias me fez morrer um pouco mais por dentro. Eu só queria que eles levassem um bom puxão de orelha, mas não em Ingleside, nunca em Ingleside. Anne estava sempre pronta para dar um abraço, um beijo, dizer ‘tudo bem’ e ainda oferecer um cupcake antes de dormir. O mesmo vale pra Gilbert e Susan.
Outra raiva que nos aflige já no começo do livro é a tia Mary Maria, uma tia distante de Gilbert que vem passar um final de semana e acaba passando um ano. Ela destrói completamente a harmonia da casa, todo mundo a odeia, inclusive as crianças, Anne não se sente mais dona da própria casa E MESMO ASSIM NINGUÉM TEM CORAGEM DE MANDAR A MULHER EMBORA. Ah, tem coisas que simplesmente não tem cabimento.
E o que dizer sobre a crise no casamento dos Blythe, que me arrebatou nas últimas 30 páginas de leitura, me deixando com os nervos a flor da pele, pronta para entrar página a dentro e agarrar o Gilbert pelo pescoço. Não posso dizer quantas vezes gritei: PEDE DIVÓRCIO, PEDE DIVÓRCIO! Nada que Gilbert Blythe dissesse naquela noite me faria perdoá-lo pelo ódio que eu e Anne passamos.
Aliás, esse desgaste no relacionamento dos Blythe, proveniente do trabalho excessivo do jovem doutor, também foi um ponto muito abordado e algo muito real nos relacionamentos. O desgaste, a distância, a forma como as coisas se tornam automáticas. Anne de Ingleside aborda muito bem a sobrecarga que ambos podem sentir em um relacionamento, tanto quem fica em casa, quanto quem trabalha, e pela primeira vez podemos realmente nos identificar com a tão perfeita Anne, que chega no seu limite em determinados momentos.
Jem, Walter, Nan, Di, Shirley e Rilla foram com certeza o ponto alto da leitura, trazendo uma leveza, pureza e criatividade que não víamos desde Anne de Green Gables. A cada página lida eu falava “são iguaizinhos a mãe”, todos sempre no mundo das fadas, fantasiando sobre piratas, príncipes e princesas. Porém, confesso que demorei MUITO pra discernir quem era quem e até o fim do livro ainda não sabia ao certo quantos filhos eles tinham haha
Uma coisa que senti falta aqui foi uma presença mais marcante dos personagens introduzidos em Anne e a Casa dos Sonhos. Sabemos que Leslie e seu novo marido compraram a casa dos sonhos como casa de veraneio, porém, pouco vimos do casal, que poderia ter aparecido um pouco mais, já que Jem vivia na casa onde nasceu, brincando com o filho de Leslie. Cornélia até aparece bastante, mas eu simplesmente senti que as conexões criadas no penúltimo livro foram simplesmente jogadas no espaço, esquecidas no tempo, nos bons e velhos tempos (saudades Capitão Jim).
Finalizo essa resenha dizendo que senti falta de mais “Anne” nesse livro, mesmo com todo o resto que tivemos e também que eu jurava de pé junto que esse era o último livro da coleção, já tinha feito toda uma despedida, porém Vale do Arco Íris e Rilla de Ingleside aparentemente não são apêndices, mas sim parte oficial da história. Então deixemos as despedidas pra depois, pois ainda tenho dois livros pela frente.